COMPORTAMENTO
1. O passado vai nos condenar
No mundo físico, você sempre pode mudar. Pode mudar de cidade, de aparência, de
estilo, de profissão, de opinião. Na internet, não é assim: tudo o que você já
fez ou disse fica gravado para sempre. Cada vez mais, usamos a rede para nos
relacionar uns com os outros. Isso está gerando uma massa de dados tão grande,
cobrindo tantos detalhes das nossas vidas, que no futuro será muito difícil de
controlar – e poderá nos comprometer. “Nunca mais escreva [na internet] nada
que você não queira ver estampado na capa de um jornal”, advertem Cohen e
Schmidt.
A internet não esquece nada. E isso afetará a vida de todo
mundo. Se uma criança chamar uma colega de “gorda” na rede, por exemplo, poderá
manchar a própria reputação pelo resto da vida – pois todo mundo saberá que, um
dia, ela praticou bullying. Inclusive potenciais empregadores, que poderão
deixar de contratá-la. Uma foto, um comentário, um post infeliz poderá trazer
consequências por muito tempo. “Os pais terão de conversar com os filhos sobre
segurança e privacidade [online] antes mesmo de falar sobre sexo”, dizem os
autores. Schmidt diz que a internet deveria ter um botão “delete”, que
permitisse apagar para sempre eventuais erros que cometamos online. Isso é
muito difícil, pois alguém sempre poderá ter copiado a informação que queremos
ver sumir. Mas surgirão empresas especializadas em gerenciar a nossa reputação
online, prometendo controlar ou eliminar informações de que não gostamos, e
empresas de seguro virtual, que vão oferecer proteção contra roubo de
identidade virtual e difamação na internet. “A identidade online será algo tão
valioso que até surgirá um mercado negro, onde as pessoas poderão comprar
identidades reais ou inventadas”, dizem os autores. O fim do esquecimento terá consequências profundas – que, para o
Google, incluirão até a escolha do nome das pessoas. Alguns casais batizarão
seus filhos com nomes bem diferentes, que não sejam comuns, e registrarão esses
nomes nas redes sociais antes mesmo do nascimento da criança, tudo para que ela
se destaque. Outros preferirão nomes comuns e genéricos, do tipo “José Carlos”,
que sejam muito frequentes e tornem mais difícil identificar a pessoa,
permitindo que se esconda na multidão e mantenha algum grau de privacidade
online. Hoje, esse tipo de coisa soa meio estranho. No futuro, talvez não seja.
POLÍTICA
2. Haverá um ataque terrorista
envolvendo a internet
O vírus Stuxnet, supostamente criado por Israel, foi usado para
atacar o programa nuclear iraniano, e quase todas as semanas surge um novo caso
de empresa ou universidade americana que teve seus computadores invadidos por
hackers chineses. Ou seja: a guerra digital já é uma realidade. Ela tende a
aumentar, tanto que o livro do Google fala no surgimento da Code War (guerra de
códigos, em inglês), um conflito que envolveria vários países atacando as redes
de computadores uns dos outros. Seria um conflito longo e cheio de pequenas
sabotagens, sem declarações diretas de guerra, semelhante à Guerra Fria. “Os
países vão fazer coisas online uns com os outros que seriam muito provocadoras
[como sabotar usinas, espionar, derrubar o acesso à internet] de se fazer
offline. Isso vai permitir que os conflitos aconteçam no campo de batalha
virtual, enquanto o resto permanece calmo.”
Mas o fato de a guerra ser digital não significa que ela não vá
derramar sangue. Os executivos do Google imaginam um novo 11 de Setembro, que
envolveria uma sequência de ações terroristas online e offline. Um hacker
poderia invadir o sistema de tráfego aéreo de algum país, por exemplo, e
induzir os aviões a voarem na altitude errada – para que eles se choquem uns
contra os outros. Aí, com a atenção mundial voltada para esse caos aéreo, viria
a segunda fase do ataque: bombas posicionadas estrategicamente em Nova York,
Chicago e em São Francisco explodiriam. Nas horas seguintes, uma nova onda de
ataques virtuais atrapalharia a comunicação e a mobilização da polícia, dos
bombeiros e ambulâncias. Em seguida, outro ataque poderia prejudicar os
sistemas de distribuição de água, energia, óleo e gás do país. “No futuro, a
força dos grupos terroristas não virá da disposição de morrer por uma causa, e
sim do domínio tecnológico que eles possuírem”, preveem os autores.
3. O governo vai migrar para a web
Ir a uma repartição pública costuma ser uma experiência desagradável, cheia de
burocracia e filas. Mas e se essa repartição fosse transformada num site – no
qual você pudesse resolver todos os seus problemas? Eric Schmidt e Jared Cohen
propõem que o governo migre para a internet e seja capaz de funcionar por meio
dela. Isso tornaria a operação mais eficiente, permitindo dar um atendimento
melhor à população, e também seria uma vantagem em caso de desastres naturais.
Se o prédio de um ministério fosse destruído por um terremoto, por exemplo, a
instituição poderia continuar a funcionar online, com os funcionários se
conectando de qualquer PC com acesso à internet.
4. A rede vai se fragmentar
A internet foi criada, no final dos anos 60, para conectar as redes internas de
universidades e instituições do governo americano. Ou seja: ela é, por
definição, uma união de pequenas redes (daí seu nome, que significa
“inter-rede”). É essa união que nos permite acessar qualquer site, de qualquer
lugar do mundo, e foi ela a grande responsável pela universalização da
internet. Mas, no futuro, não será assim. Com a desculpa de combater o
terrorismo e os crimes online, e também por questões culturais, alguns países
criarão suas próprias regras – e, na opinião do Google, isso acabará resultando
em internets nacionais, com as características de cada lugar. E o que entra e
sai de cada uma delas será monitorado, com direito a censura. Mais ou menos
como já acontece em países como Irã e China – só que no mundo inteiro. Essa
previsão pode parecer exagerada, mas tem certo respaldo no mundo real. Em março
deste ano, o Parlamento Europeu discutiu uma lei que iria proibir o conteúdo
pornográfico na internet (e acabou não sendo aprovada). É provável que, no
futuro, os Estados tentem exercer algum controle sobre a internet.
Outra tendência, segundo Cohen e Schmidt, é a formação de
alianças digitais entre países que tem costumes e opiniões semelhantes. Poderá
surgir uma internet regional cobrindo vários países do Oriente Médio, por
exemplo, com conteúdo e regras determinadas por eles. Em contrapartida,
minorias ou insurgentes também poderão ter seu país online, como a criação de
uma internet palestina, por exemplo. “O que começou como a World Wide Web começará
a se parecer mais com o próprio mundo, cheio de divisões internas e interesses
divergentes”, dizem os autores. Eles imaginam até a criação de uma espécie de
visto, que controlaria quem pode ou não entrar na internet de cada país. “Isso
poderia ser feito de forma rápida e eletronicamente, exigindo que os usuários
se registrem e concordem com certas condições de acesso à internet de um país.”
SOCIEDADE
5. Um computador saberá tudo sobre você
Quer saber quais informações o Google tem sobre a seu respeito? Acesse o site
google.com/dashboard e você provavelmente irá se surpreender. São dezenas de
informações, que incluem quais buscas você fez, quem são seus amigos, sua
agenda de compromissos, seu endereço, onde você vai e todo o conteúdo dos seus
e-mails e documentos. O Google já sabe muita coisa. Mas, no futuro, poderá
saber ainda mais. Isso porque as informações que hoje ficam em bancos de dados
separados, como a sua identidade (RG), registros médicos e policiais e
histórico de comunicações, serão unificadas em um único – e gigantesco –
arquivo. Com apenas uma busca, será possível localizar todas as informações
referentes à vida de uma pessoa. Algumas delas só poderiam ser acessadas com
autorização judicial, mas sempre existe a possibilidade (e o receio) de que
isso acabe sendo desrespeitado. Um exemplo recente: em maio, vazou na internet
um documento no qual o FBI autoriza seus agentes a grampear os e-mails de
qualquer pessoa, mesmo sem permissão de um juiz.
Lutar contra isso, e revelar poucas informações pessoais na
internet, será visto como atitude suspeita. Cohen e Schmidt acreditam que o
governo vá criar uma lista de “pessoas offline”, gente que não posta nada nas
redes sociais – e por isso supostamente tem algo a esconder. “Elas poderão ser
submetidas a um conjunto de regras diferentes, como revista mais rigorosa no
aeroporto ou até não poder viajar para determinados locais”, dizem.
6. Um grupo vai desvendar as mentiras
da internet
É comum que os governos falsifiquem ou adulterem informações. Era assim na URSS
(Stálin mandava apagar pessoas de fotos históricas) e é assim no Irã e na
Coreia do Norte, que já foram pegos usando Photoshop para manipular imagens
militares. Por isso, os executivos do Google preveem a criação de uma entidade,
independente de qualquer governo, que seria responsável pela fiscalização e
investigação dos dados divulgados na internet, principalmente os que
envolvessem política e conflitos armados. Uma espécie de Cruz Vermelha virtual,
que teria representantes de vários países e funcionaria como referência para os
órgãos de imprensa.
7. Mais pessoas terão (menos) poder
A internet permite que as pessoas se informem, se comuniquem e se organizem de
forma livre e independente. Ou seja, ela dá poder às pessoas. Com o acesso a
novas ideias, populações vão questionar mais seus líderes. Imagine o que
acontecerá quando o habitante de uma tribo na África, por exemplo, descobrir
que aquilo que o curandeiro local diz ser um mau espírito na verdade não passa
de uma gripe. “Os governos autoritários vão perceber que suas populações serão
mais difíceis de controlar e influenciar. E os Estados democráticos serão
forçados a incluir mais vozes em suas decisões”, escrevem Jared Cohen e Eric
Schmidt.
A Primavera Árabe é um bom exemplo disso. A internet teve um
papel fundamental na organização dos grupos populares que derrubaram os
governos de quatro países (Tunísia, Egito, Líbia e Iêmen) e abalaram vários
outros. No caso egípcio, o próprio Google acabou sendo envolvido – pois Wael
Ghonim, executivo da empresa no Egito, entrou por conta própria em mobilizações
online (e ficou 11 dias preso por causa disso).
Na era da internet, minorias antes reprimidas também passam a
ter uma voz. Mas, na opinião do Google, isso não terá necessariamente um grande
efeito prático. É o chamado ativismo de sofá. A pessoa pode até curtir e
compartilhar conteúdo relacionado a uma causa, mas, na hora de ir para as ruas,
a coisa fica diferente. A mobilização virtual nem sempre se traduz em
engajamento real. Além disso, a internet permite que os movimentos sociais
surjam e cresçam muito rápido, de forma descentralizada e diluindo o poder
entre muitas pessoas. Isso acaba fazendo com que esses movimentos tenham muitos
líderes fracos, em vez de poucos líderes fortes.
Para sustentar essa tese, Cohen e Schmidt citam a Primavera
Árabe, em que os regimes totalitários e os ditadores caíram, mas seu lugar
acabou sendo tomado por governos muçulmanos, que não são particularmente
democráticos, em vez de lideranças egressas da internet. “Sem estadistas, não
haverá indivíduos qualificados o suficiente para levar um país adiante.
Corre-se o risco de substituir uma forma de autocracia por outra”, dizem os
autores. Em suma: a internet distribui o poder, mas isso não necessariamente
resulta na formação de grandes líderes. Nelson Mandela não era uma celebridade
de Facebook.
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